No passeio anterior pelo Montserrat (Refugi Vicenç Barbe) tínhamos tentado visitar a Cueva del Salnitre, mas como não havíamos comprados as entradas com antecedência fomos barrados na porta, pois a lotação estava completa, principalmente em tempos de Covid-19.
Após mais de um mês sem podermos sair do município nos finais de semana, meados de dezembro, foi liberado entre 6 e 22 horas, mas apenas dentro da comarca, e a nossa, do Bajo Llobregat, nos permite ir até Montserrat, mas não até a cidade de Barcelona. Então resolvemos voltar à Cueva del Salnitre, conhecida também como Cueva de Collbató, ou ainda Cueva de Montserrat. Localizada no município de Collbató, província de Barcelona, está a cerca de 30 km da cidade de Barcelona, no Parque Natural Montanha de Montserrat, onde são conhecidas mais de 100 cavernas, mas abertas para visitação apenas esta.
Reservamos as entradas no dia anterior pelo site (https://www.covesdemontserrat.cat/cuevasdemontserrat), e conseguimos escolher o horário que gostaríamos de ir porque haviam poucas reservas feitas até então. A entrada inteira custa 7,50€ por pessoa.
O dia do passeio amanheceu frio, com rajadas de ventos que chegaram a 40 km/h, mas com um sol lindo. Saímos cedo de casa, pois de moto teríamos que ir a uma velocidade menor, e acabamos chegando cedo até o estacionamento mais próximo da Cueva. A partir desde ainda é necessário subir 05 degraus até a entrada da caverna, mas como chegamos cedo, fomos tranquilos.
Ainda aguardamos nosso horário para entrar uns 20 minutos, mas como lá não ventava e o sol estava gostoso, nem nos importamos. As outras duas pessoas que haviam comprados ingresso para o mesmo horário que nós não apareceram, e iniciamos nossa aventura sozinhos, acompanhados apenas pela guia Ana.
Curiosidade. No Neolítico a caverna serviu de refúgio para seus primeiros e primitivos habitantes, posteriormente a mesma ficou esquecida até a época medieva, quando redescoberta pelos monges do Mosteiro de Montserrat. Nesta época foi explorado o salitre que ali existia, até se exaurir, ficando a caverna esquecida mais um período. Durante a Guerra de la Independencia, frente aos franceses, se escondeu ali o ladrão Mansuet Boxó, que protagonista de uma lenda se converteu em herói. A partir daí a Cueva del Salnitre passou a ser protagonista importante da história da espeleologia catalã, passando a ser explorada com fins turísticos a partir de 1850.
Lenda. Segunda lenda o ferreiro de Collbató, Mansuet Boxó se refugio na Cueva del Salnitre diante da chegada dos franceses, e se converteu em um ladrão. Vendo ameaçado o povo pela ocupação francesa, levou até a caverna mulheres, crianças e as joias que havia no povoado para protegê-los. Mas um dia o exército descobriu a caverna e para dissuadi-los a entrar na caverna ameaçou dizendo as rochas iriam cair e derrubariam a montanha, se eles entrassem. Mesmo assim os homens entraram, e Mansuet deixou cair um caldeirão de cobre por um poço. A caverna começou a retumbar a cada golpe que o caldeirão dava contra as paredes, fazendo um estrondo enorme e assustando os soldados, crendo que a montanha desmoronaria sobre eles. O medo foi tamanho que na tentativa desenfreada de sair da caverna alguns caíram nos buracos, e a partir deste momento os franceses não voltaram a Collbató, e Mansuet se converteu em um herói para o povoado.
Geologia. A Cueva del Salnitre é resultado de um processo erosivo em material conglomerático (origem fluvial), principalmente calcário, do qual é formado o Maciço de Montaserrat por ação da água das chuvas que se infiltram e modelam seu interior, preferencialmente nas regiões mais fraturadas devido à movimentos orogêncios. A montanha toda apresenta esse sistema de diáclases de orientação predominante NW-SE. Existem camadas de material mais fino, produto de épocas menos chuvosas ao longo da formação das rochas que tendem a erodir com maior facilidade, e provavelmente deram origem aos condutos que hoje podemos visitar.
Logo que entramos nos deparamos com o maior salão da caverna de conglomerados do Montserrat, La Sala de la Catedral, e ali vimos várias cadeiras sobre estruturas de madeira. Ana, super simpática desde a recepção, falou para escolhermos um lugar para sentarmos e começou a contar sobre a caverna.
Em seguida Ana nos deixou sozinhos para assistirmos a projeção que é feita nas paredes da caverna. Felizmente lembrei de filmar e vou mostrando pra vocês um pouquinho do que nos foi passado. Uma projeção sem narração, apenas imagem e música sobre a formação da rocha e da caverna, da descoberta e exploração da mesma e a evolução ao longo da história. Sensacional!
Não é permitido filmar tudo, nem eu queria, pois queria aproveitar aquele momento, mas gravei um trecho para mostra como é.
Após assistir à projeção iniciamos nosso percurso seguindo nossa guia "particular". Ela iniciou o passeio nos dando diversas informações e mostrando detalhes da caverna.
Mais uma parada antes de descermos pelo Poço do Diabo com as explicações da Ana sobre algumas formações que encontramos no caminho.
Descemos até o final do percurso de 600 m, sendo muitos deles através de escadas (cerca de 500 degraus) construídas para facilitar o acesso dos turistas, e fomos observando cada detalhe, os diferentes salões, as passagens estreitas, as formações geológicas desenvolvidas ao longo dos milhares de anos e tudo mais. O desnível total desde a entrada da caverna até seu ponto mais baixo é de 20 metros.
Com o chão quase todo aplainado e muitas escadas, no geral o caminho é largo e com teto alto, mas existem alguns trechos onde temos que nos abaixar e desviar de alguns blocos de rochas. Algumas escadas também são bastante estreitas, e outras é aconselhável descermos de costas, mas tudo com muita segurança, e onde a iluminação instalada ao longo do caminho é falha, Ana nos indica os degraus que existem ou outro obstáculo.
O nome dos salões e passagens foram dados devido às características ou história dos mesmos, sendo os mais conhecidos: La Sala de la Catedral, com 60 m de largura e 35 m de altura, onde na base existem blocos de rochas desmoronadas; El Pou del Diablo, ou Poço do Diablo, uma passagem estreita com 16 m e 66 degraus que temos que descer para acessar os outros salões e passagens; La Cueva de los Murciélagos, que devido à abundância de morcegos em outros tempos gerou o acúmulo de seus excrementos, que ao se decompor sobre a rocha calcária rica em fosfato formou nitrato de potássio (salitre); La Sala de la Virgen, o último salão visitado, e onde no alto existe uma formação geológica que o formato (com certa imaginação), lembra a estátua da Virgem Maria.
Consequência de um ambiente perfeito formado, com iluminação, temperatura e umidade, microalgas e cianobactérias sem aparecido e se desenvolvido dentro da caverna, tendo sido observadas pela primeira vez em 2004, e desde então estudiosos destas espécies tem tomado medidas para controlar o crescimento.
Foi minha primeira visita em uma caverna de conglomerado, e essa bastante distinta das cavernas formadas em rochas calcárias que já havia visitado, inclusive duas delas que já postei na categoria Brasil (Torrinha e Gruta da Lapa Doce, na Chapada Diamantina).
Essa caverna não tem muitas e maravilhosas formações como estalactites e estalagmites, mas ainda assim é possível encontrar algumas bastante antigas, e outras em formação. Inclusive em um trecho encontramos algumas que forma quebradas, levadas como suvenires por pessoas que provavelmente não conheciam a história e quanto tempo que uma estrutura dessa demora para se formar.
Apesar de estamos bem agasalhados porque na cidade fazia frio, e na moto pior ainda, não tiramos nenhuma peça para fazer o percurso dentro da caverna, que mantém uma média de 14 graus e índice de umidade elevado (97%). Não sentimos calor durante o passeio, apenas na saída, após a subida das escadas. Mas logo chegamos no exterior da caverna e estava frio novamente.
O passeio todo tem duração de cerca de 1 hora, incluindo a apresentação do vídeo projetado nas paredes da galeria principal. Na saída existem algumas placas informativas e uma mini galeria/museu de rochas sobre a caverna, por onde passamos rapidamente.
Bom, como na chegada tivemos que subir, agora o caminho de volta era descida, e fomos aproveitando a vista maravilhosa da região em volta do Montserrat.
Já na moto, para o caminho de volta para casa o Roger pegou uma outra estrada que seguia bordejando o Montserrat em sua parte média, descendo até o pé, e chegamos até onde as pessoas podem subir à área onde fica o Monastério de teleférico. Paramos ali no estacionamento só para tirar foto e seguimos para casa, pois já estávamos com muita fome, o passeio terminou quase 13 horas, e a partir daqui ainda teríamos uns 40 minutos de moto até Castelldefels.
Recomendações:
Para esse tipo de passeio é sempre recomendado utilizar roupas confortáveis e sapatos adequados, pois o terreno é irregular e pode eventualmente causar quedas. Além de agasalho devido à temperatura no interior da caverna que é de 14 graus.
O passeio é curto, e não é necessário levar água, nem comida, que podem ficar no carro para serem consumidos ao final.
No lugar não existe nenhum tipo de serviço, mas a cidade está próxima, e se você gosta de piquenique, existem áreas para isso um pouco mais abaixo, onde fica o primeiro estacionamento.
E de lembrança, leve apenas fotografias. Nunca piche ou escreva, mesmo que seja desgastando apenas as rochas, são formações que levaram milhares de anos para se formar, e só estão assim bonitas durante sua visita, porque os visitantes anteriores a preservaram.
Manter este lugar mágico é responsabilidade de cada um!
Continuamos com nossas aventuras, venha conosco....
Obrigada por nos acompanhar sempre!
Lindoooo! As pessoas têm que estar em forma para aproveitar bem! Beijos minha linda!